Nossa!! Tem duas semanas que não escrevo nada!!! E eu achando que tinham se passado só alguns poucos dias...
Sabe eu ia escrever uma coisa... mas acabei de ler o post da Bruna... e acabou que mudei completamente o que ia escrever... resolvi que ao invés de colocar trivialidades aqui, vou colocar algo pra fora... uma coisa que eu já tinha que ter feito... e que quanto mais guardo dentro de mim... mais eu me sinto mal com isso.
Meu pai "morreu" pela primeira vez quando eu tinha 10 anos e ele chegou em casa bêbado, e tentou bater na minha mãe... eu entrei na frente e disse que se ele quisesse bater nela, ia ter que bater em mim também, ele nunca tinha levantado a mão pra mim, e eu achava que isso era uma questão de amor, só que depois desse dia eu nunca mais achei isso... ele ia me bater e minha mãe não deixou... e ele berrou dizendo que eu não era filha dele, que não me queria e que nunca me quis, e me mandou embora da casa dele. Eu achei que fosse morrer... e de certa forma morri... mas morri por dentro, o que durante todos esses anos só me prejudicou, porque passei a não acreditar em muitas coisas. É claro que não fui embora, eu era só uma criança, mas foi a partir daquele momento em que desisti de ter um pai.
Eu já tinha minha mãe, minha irmã e meu irmão... então eu não precisava de mais nada. Um tempo depois comecei a me coçar pra arrumar um dinheirinho extra, minha mãe trabalhava de doméstica pra ajudar a pagar as contas, e eu não queria ter que pedir a ela, já que era tão suado e as vezes contado, e pra ele eu nunca abaixaria minha cabeça, afinal ele já estava morto pra mim.
E eu cresci, entrei no ginásio, e foi nessa época que descobri que ele não queria que eu nascesse... que ele não me queria, e que quando minha mãe foi atropelada porque um sujeitinho qualquer avançou o sinal vermelho ele, o meu pai, disse que a culpa tinha sido dela... ELA estava na faixa... ela estava certa... ela quase morreu... ela quase ficou condenada a andar de cadeira de rodas o resto da vida... ela quase nos deixou sozinhos... três crianças... eu tinha acabado de fazer 5 anos... e ele disse que a culpa era dela... e ele morreu novamente pra mim.. e eu comecei a entregar folheto em sinal, eu sempre fui grandona, com corpão então ninguém nunca achou que eu tivesse menor idade, o que foi uma sorte.
E num determinado momento disso, meu pai foi aposentado pela Confeitaria Colombo, onde ele tinha trabalhado a vida inteira (tirando a época do quartel), sem chegar atrasado ou faltar sequer um dia em todos os anos que trabalhou lá, e ele se sentiu chutado, e neste momento ele se afogou mais ainda em bebidas, e teve uma x que ele passou muito mal e ficou sem beber uns dias, e começou a ter surtos pela falta da bebida, e tentou colocar fogo na casa, achando que tinham pessoas ruins lá dentro. E foi ai que decidimos interna-lo num hospital pra desintoxicação, nesse período minha irmã estava em casa, e eu é que estava do lado dela agilizando tudo pra que ele fosse tratado, e então o médico disse " Nós vamos ter que interna-lo." e minha irmã pediu que não... e ele disse "ele é um risco pra vocês, ele pode machucar um de vocês, pense na sua irmã." e ela olhou pra mim e resolver prosseguir e interna-lo... e ele passou um tempinho lá... e todo mundo falava pra eu ir visita-lo, e eu sempre arrumei uma desculpa, ai teve uma x que fui obrigada a ir... e eu fui... e nesse dia, nesse dia eu morri mais um pouco, porque por mais que não nos déssemos bem, foi difícil ver meu pai ali, meio que amarrado pra não se machucar, pra tentar se limpar... tirar aquele veneno que estava destruindo ele, e todos nos.
E ai um tempo depois ele voltou pra casa, minha irmã assinou a liberação dele, e foi tudo ótimo... ele me pediu desculpas por todas as coisas que ele tinha me feito durante todos aqueles anos, e a toda a família, e nos desculpamos, afinal a culta era da doença dele... e eu achei que teria um pai. Então menos de um mês depois, ele tinha voltado a beber. E eu morri mais uma x quando cheguei e vi a raiva que ele sentia.
E depois disse houveram muitas cenas de ódio e revolta, a dor de não saber o que tinha feito pra que ele não gostasse de mim... minha mãe sempre disse que eu era uma boa filha, sempre tinha sido e que eu tinha um coração de ouro... pra que eu não esquecesse disso. Mas eu esqueci e durante muito tempo, eu só tive raiva dentro de mim... tudo era motivo pra explodir essa magoa em cima de todo mundo que me amava... mas eu mudei, e vi que não era minha culpa, e sim da doença... Então segui minha vida e muitas coisas mudaram... eu vi que não tenho um coração de ouuuuro como minha mãe falou, mas eu tenho um bom coração, que sou uma boa pessoa e que tenho ser o mais correta possível, para não fazer mal as pessoas.
Nesse período da minha redescoberta, ou melhor de descoberta, ele quebrou os dois fêmurs, caindo na rua, ele cortou a cabeça algumas vezes e se machucou outras tantas, e várias vezes ele morria mais um pouquinho pra mim, e nos fomos vivendo nossas vidas... meu irmão "casou" e teve duas filhas LINDAS!!!; minha mãe prosseguiu trabalhando, mesmo com o problema causado pelo atropelamento que quase a matou; minha irmã continuou estudando e trabalhando e entrou para a faculdade, no final desse ano ela se forma, e como eu tenho ORGULHO disso!; e eu... bom eu continuei minha vida, trabalho, hoje em dia... faculdade de Direito!! e muitas outras coisas... mas enquanto nos íamos seguindo nossas vidas, e muitos anos de brigas, raiva e muitos outros sentimentos, minha mãe se aposentou pelos problemas causados pelo atropelamento, e aguentou poucas e boas da parte dele, e várias outras coisas, meu pai ficou doente, muito doente... e então nos o forçamos a ir ao hospital, graças a minha mãe, ele tinha um plano de saúde, e ele foi pra um particular, e ele ficou internado e ele estava muito fraco.. e ficou no CTI... mas ele melhorou... e nos achamos que dessa vez ele ia se tocar e melhorar... que não iria mais beber... e eu fui visita-lo, prq ele perguntava por mim, e minha mãe dizia que os olhos dele ficavam com água quando ele fazia isso... e eu abri meu coração... e perguntei o porque? ele tinha uma família que amava ele, que não tinha abandonado ele... que nos tentamos de tudo... nunca nos metemos com coisas erradas, sempre tentamos trazer orgulho pra ele, ele tinha netas que eram doidas por ele, uma família que muita gente por aí faria qualquer coisa pra ter, unida que se ama... e depois de 15 anos eu chorei, e desejei ter o poder de mudar tudo, de voltar todos esse anos e sentir o abraço que ele me dava, quando chegava em casa do trabalho e eu berrava... "O PAI É MEU!!!" e corria pra ele e ele simplesmente sorria e meu mundo virava uma festa. Mas eu não tenho esse poder... e ele pela primeira vez, acredito eu, viu o que ele fez. E então... eu fui embora... e uma semana depois, meu pai voltou pro CTI, eu estava trabalhando no dia, fazendo uma festa e já no final dela eu senti que tinha algo de errado acontecendo, liguei pra minha irmã e estava tudo bem, pra minha cunhada e estava tudo bem... mas eu não conseguia falar com minha mãe... eu fiquei com medo de que fosse algo com ela... mas então eu senti... ele, do meu lado, eu ouvi ele me chamando e eu sabia o que tinha q fazer, prq eu sabia que era com ele ... e corri pro hospital, que era perto do local da festa, e quando cheguei lá.. soube que ele estava no CTI... e eu sabia que tinha que falar com ele... mesmo que ele não me ouvisse... ele me chamou... então eu tinha que fazer isso... convenci o pessoal do CTI e entrei... 5 minutos... eu estava em prantos... desesperada... nunca tinha me sentido assim em relação a ele... naquele momento eu queria que tudo fosse mentira... e que ele saísse daquela porta berrando... eu nem me importaria. Fiquei 5 minutos ao lado dele na cama... e conversei com ele... pedi perdão por toda a raiva que senti dele durante quase toda minha vida... e teve um momento em que senti que a fisionomia dele, se aliviou... e eu senti que ele não sairia dali, isso foi no domingo... eu voltei pra fazer uma segunda festa, e depois fui para casa... na segunda eu conversei com minha chefe e expliquei o q estava acontecendo... até então ninguém no meu trabalho sabia... e na terça-feira eu iria visita-lo durante o horário de almoço... Eu não tive tempo... ele faleceu na madrugada do dia 17/03 para 18/03... e essa foi a última e definitiva vez que meu pai morreu.
Eu fechei o caixão dele, juntos com meus irmãos... tentei fazer graça, prq esse é o meu jeito... carreguei o caixão dele e ajudei a colocar na cova, junto com meus irmãos... e assim mesmo tentei fazer graça... mas na verdade, o que ficou e ainda está aqui dentro é um vazio que parece que nunca é preenchido... é a pergunta que não vai ser respondida... e a vontade de saber onde foi que se errou, sem nem ao menos ter errado.
É a sensação de que perder quem amamos é muito difícil... mas que pior ainda é perder quem não sabemos amar, prq fica aquela sensação de que se poderia ter feito mais... se esforçado mais... ter tentado dar mais orgulho... um motivo pra viver... mas o mais angustiante é que você não perde só a pessoa que morreu... você acaba se perdendo também.
E então eu fui me perdendo... várias vezes durante esse um ano e pouco... e a verdade é que eu ainda não sei quando e se é que vou me reencontrar.. e sair dessa escuridão... se vou conseguir me manter firme e forte como sempre deixei que os outros pensassem que eu sou... e quando na realidade, eu sou só uma garota, que está muito machucada e assustada, e que não tem aguentado todas as coisas que acontecem e que sente que esta ficando soterrada e que tem vontade de gritar e pedir para acabar logo com tudo isso... e que só precisa de ajuda... e que as vezes só quer um ombro pra chorar... um braço pra ser envolvida... e um colo pra se sentir segura.
2 comentários:
Amiga, nossa, to chocada, to sem palavras na verdade, que texto, que orgulho eu tenho de você, caramba! Sempre disse que vc é uma pessoa maravilhosa, forte, que vc é uma pessoa boa, com um coração de ouro (como dizia sua mãe).... Só posso dizer que vc é a melhor pessoa que já conheci até hoje e que te amo mt minha amiga!
Bom, é difícil comentar sem recorrer àquela nossa velha conhecida, a terapia. Calma, não estou pedido para vc fazer (pedi ontem). O que aconteceu com seu pai, a relação conturbada com vc foi criada por ele. Acredite, mas você em nenhum momento teve culpa das reações dele...
Beijos.
S'agapo.
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